quinta-feira, 27 de maio de 2010

O SHOW DO EU, VC E TODOS NÓS

Paula Sibilia. O Show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

Antes de desenvolver cada capítulo, Sibilia, faz algumas indagações, nos cativando para o que vem pela frente no próprio capítulo ou nos precedentes. Faz desfilar na escrita tão leve e ao mesmo tempo arrojada, vários autores básicos que lhe conferem propriedade em cada tema. Como alguém se torna o que é? - Nietzsche. Quem sou, quem somos? “Pois eu sou tal e tal e sobretudo não me confundam,” Traços da obra de Nietzsche que poderiam parecer loucura do filósofo para seus contemporâneos, apenas o deslocam no tempo e o tornam nosso contemporâneo bem situado no tempo (de que forma?) em querer aparecer da forma que realmente é.

Megalomania e excentricidade

Paula Sibilia começa seu ensaio com dois fragmentos, um de Nietzsche, filósofo do final do século XIX e outro de Bruna Surfistinha, uma internauta do século XXI. Tenta jogar para a contemporaneidade a naturalização da megalomania e excentricidade outrora tidos como patológicos.

Na sociedade do espetáculo, quem brilha são as pessoas comuns, que agora tem a oportunidade de aparecer, de dizer quem são, sobretudo de se exibirem, de se mostrarem. Com a possibilidade trazida pela interação na grande nuvem que é o ciberespaço “eu, você e todos nós” como enfatiza Sibilia, temos a oportunidade de produzir conteúdos na mídia interativa (Blogs, sites, redes de relacionamento). O amadorismo ganha espaço e se sobressai dentro de uma democracia digital.

Sibilia nos pergunta: “Será que estamos sofrendo um surto de megalomania consentida e até mesmo estimulada?” ou fomos tomados por uma onda de humildade onde todos e qualquer um devem ter seu espaço? “O que implica esse súbito resgate do pequeno e do ordinário, do cotidiano e das pessoas comuns?”...“para onde aponta essa estranha conjuntura que, mediante uma incitação permanente à criatividade pessoal, à excentricidade e à procura constante da diferença, não cessa de produzir cópias e mais cópias do mesmo.”

Exaltação do banal ( o que significa?) - burrice e sabedoria.

“Qual é a relação deste eu e deste vc, tão venerados hj em dia, com aquele alguém de Nietzsche?” (para começar a compreender e pensar nos meios de comunicação de massa e em seguida nos meios de comunicação interativos via tecnologias-redes digitais).

Com a internet surge também uma explosão e produção e interação através de uma hiperprodução de materiais como blogs (diários íntimos), fotologs, páginas pessoais e uma infinidade de sites de relacionamentos e formando diversas redes...as webcams/ revolução da web 2.0

Indica uma transição de uma formação histórica baseada no capitalismo industrial (sociedade disciplinar- Michel Foucault) para outro tipo de organização social. Transformam-se os tipos de corpos e as maneiras de ser e estar no mundo. Novo regime de poder. Novas articulações do mercado.

Como bem indica Sibilia a sociedade disciplinar do sec XIX primava pela separação entre a esfera pública e a esfera privada da existência (principalmente a escrita em forma de diários era feita de forma velada, reclusa, solitária- introspectivo). No sec XXI, diz a autora, as pessoas são convidadas a se mostrarem, a aparecerem.

Fala em desnaturalizar as atuais práticas comunicativas para ir a raiz e verificar suas implicações políticas. Já que o mercado, ou mesmo o próprio capitalismo que se alimenta dos processos criativos postos enquanto repele outros corpos e subjetividades que não lhe são interessantes.

Tenta compreender o fenômeno de exibição da intimidade.

Nos indaga no segundo capítulo a respeito das novas forma de expressão e comunicação via rede, tentando colocar o leitor diante das novas narrativas que surgem, elas se classificam como vidas ou obras ou algo que ainda não podemos definir?(já que muitas vezes, com o privilégio de manter o anonimato os sujeitos mentem ao contar suas histórias). A autora diz não ser fácil buscar essa definição mas se aproxima da ideia de que são gêneros autobiográficos.

Sobre os escritos auto biográficos de forma geral, narra alguns escritores consagrados dialogando com eles e conclui: “Eis o segredo do relato auto biográfico: é preciso escrever para ser.” E aí poderemos voltar aos questionamentos do início da obra quando se reporta a Nietzsche em relação a constituição do ser. É por esses novos caminhos, trilhados pelas narrativas digitais que se configura o novo self, as subjetividades e o próprio sujeito se reconfigura. Fotografia, filmagem, escrita digitais. Equivalências entre viver e fotografar, viver e escrever, viver e filmar. Entre pobreza narrativa de alguns blogs e …

Para Sibilia, não vivemos um momento de meras evoluções, ou adaptação aos meios tecnológicos mas de mutações mesmo. “cada vez mais avaliamos a própria vida” não reconhecemos na ficção ou na tela nossa vida, mas vemos nela mesma diante das narrativas criadas pelo cinema...

“Ao passar do clássico suporte de papel e tinta para a tela eletrônica, não é apenas o meio que muda: transforma-se também a subjetividade que se constrói nesses gêneros autobiográficos. Muda precisamente aquele eu que narra, assina e protagoniza os relatos de si. Muda o narrador, muda o autor, muda o personagem” (SIBILIA, p.50).

Segundo Sibilia, citando Virginia Woolf, até início do séc XIX as mulheres não dispunham de um espaço privado para escrever. A subjetividade necessitava desse espaço restrito, íntimo para aflorar. Na intimidade de seus recintos privativos a escrita confessional, íntima desenvolvia-se através de diários e cartas. Hoje, segundo a autora, se instala uma publicidade total ao escrever sobre a intimidade de cada um...subjetividades/ modos de ser distantes dos modelos introdirigidos.


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